POESIA, O QUE JULGAR?
Angela
Ramalho
Na sexta feira (03/07) pela
manhã estivemos eu, Vera Margutti e Maria Cristina Vieira nas dependências do
Jornal “O Diário” atendendo convite de Loiva Lopes Trindade, Coordenadora do Programa de Incentivo à Leitura de
O Diário na Escola. Nayara Spessato, jornalista responsável pelo referido
programa também participou da reunião, cujo objetivo era selecionar as três
melhores poesias que seriam premiadas no Concurso
Noticias em Versos, iniciativa de O
Diário na Escola que envolveu professores e estudantes de Maringá e região,
cujas escolas participam do programa.
O concurso consistia em recortar uma notícia de O Diário e nela inspirar-se para compor uma poesia. Foram recebidas
muitas contribuições de temas variados, sendo que as responsáveis pelo programa
já haviam realizado uma pré-seleção, restando à Comissão Julgadora realizar a
escolha das três melhores poesias entre as pré-selecionadas.
Ao nos depararmos com os textos, surgiram no grupo muitos
questionamentos: O que julgar quando se avalia a produção de poemas feitos por
crianças e adolescentes? Essa faixa de idade tem domínio das normas da Língua
Portuguesa? Sabem o que é coerência e coesão? Conseguem comunicar-se na escrita
sem cometer erros ortográficos significativos?
Como professora da rede pública, tenho conhecimento que a grade
curricular das escolas contempla esses conteúdos e partindo do pressuposto que as
professoras responsáveis pelas turmas que se inscreveram no referido concurso provavelmente
tenham orientado seus alunos em relação à produção de poesias, achamos por bem
considerar esses quesitos, embora não tenhamos sido rigorosas nessa avaliação,
pois entendemos que por mais orientações que possam ter recebido esses
estudantes, os mesmos não possuem autonomia para desenvolver textos considerados
perfeitos dentro da língua padrão. Pautamos nossa análise também pela
originalidade e criatividade, pois em relação a isso os estudantes dessa faixa
etária tem muito a contribuir.
Com as questões de Língua Portuguesa definidas, nos deparamos com outros
questionamentos a respeito da produção de poesias. O que seria poesia para
esses estudantes? Poesia é dom? Não é dom? Pode-se ensinar poesia? Esses alunos
entenderiam de aspectos como ritmo e sonoridade na poesia? Daríamos importância
às rimas ou não?
Tínhamos como foco julgar composições de poesias infantis e/ou infanto-juvenis
e para isso a pesquisa realizada por mim quando coordenei a Oficina de Poesia do
Projeto Tendas Literárias foi fundamental. Durante 45 dias estudei poesias de
aproximadamente 40 autores infantis e infanto-juvenis, selecionando os
principais nomes para trabalhar suas produções nas oficinas de poesia. Outra
questão que estava fortemente atrelada nesse julgamento eram as escolas. O
projeto é de cunho educativo e concentra uma gama de escolas participantes.
Sabe-se que a poesia infantil brasileira manteve-se dependente da escola
por quase um século. Apenas nos anos 40 é que surgiu um livro de poesia não vinculado
à circulação escolar e somente nos anos 60 é que alguns documentos desvinculam
completamente a poesia infantil dos compromissos escolares. Ainda assim, esse “completamente”
é questionável já que, ainda hoje, as escolas são as grandes responsáveis pela
circulação da literatura infantil, uma vez que a mediação familiar é pouco
significativa nesse sentido.
Nesse
ponto nossa discussão buscou analisar aspectos que dizem respeito à
formação/capacitação do professor. Estaria o professor capacitado para
trabalhar poesia nas escolas? O professor que trabalha dois a três períodos/dia
e ainda dá conta de cuidar da casa e da educação dos filhos, teria tempo para
ler e/ou pesquisar poesia? Embora os livros de literatura infantil circulem
pelas escolas, com que frequência estes chegam às mãos dos alunos e quantos
livros de literatura infantil e infantojuvenil são trabalhados nas disciplinas de Língua
Portuguesa por ano? Estariam esses livros atualizados com o que de melhor se
produz hoje dentro da poesia brasileira?
Enfim,
a reunião de julgamento das poesias transformou-se num momento de reflexão e
aprendizado sobre as tantas influências que contribuem para que o gênero poesia
não seja trabalhado da forma como se pretende, e talvez estejam nesses fatos a
razão de nas últimas estatísticas envolvendo quantidade de leitores dos
diversos gêneros literários, a poesia não tenha obtido colocação satisfatória.
Missão cumprida resta-nos elogiar a iniciativa,
que contribui significativamente na divulgação da poesia em nossa cidade e
região, motivando a que mais e mais estudantes interessem-se pela poesia.
Nossos agradecimentos à Loiva Trindade e Nayara
Spessato pelo carinho com que fomos recebidas e por estarem à frente de tão
importante programa que por certo contribuirá tanto pedagógica como
culturalmente na formação de nossas crianças e jovens.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Deixe aqui o seu comentário!