PATRÍCIA é jornalista e assina POETA. Eu sou ANGELA, Pedagoga e assino RAMALHO (o que não deixa de ter também a sua poesia). Fico pensando como seria divino assinar "Poeta" depois do nome. Até fiz uma poesia sobre isso! Esse blog é um espaço onde brinco com as palavras, fazendo aquilo que gosto. E o que eu gosto mesmo é de fazer poesias! Portanto, embora não seja PATRÍCIA, eu sou POETA!

sábado, 4 de julho de 2015

POESIA: O QUE JULGAR?


POESIA, O QUE JULGAR?
Angela Ramalho

Na sexta feira (03/07) pela manhã estivemos eu, Vera Margutti e Maria Cristina Vieira nas dependências do Jornal “O Diário” atendendo convite de Loiva Lopes Trindade, Coordenadora do Programa de Incentivo à Leitura de O Diário na Escola. Nayara Spessato, jornalista responsável pelo referido programa também participou da reunião, cujo objetivo era selecionar as três melhores poesias que seriam premiadas no Concurso Noticias em Versos, iniciativa de O Diário na Escola que envolveu professores e estudantes de Maringá e região, cujas escolas participam do programa.

O concurso consistia em recortar uma notícia de O Diário e nela inspirar-se para compor uma poesia. Foram recebidas muitas contribuições de temas variados, sendo que as responsáveis pelo programa já haviam realizado uma pré-seleção, restando à Comissão Julgadora realizar a escolha das três melhores poesias entre as pré-selecionadas.

Ao nos depararmos com os textos, surgiram no grupo muitos questionamentos: O que julgar quando se avalia a produção de poemas feitos por crianças e adolescentes? Essa faixa de idade tem domínio das normas da Língua Portuguesa? Sabem o que é coerência e coesão? Conseguem comunicar-se na escrita sem cometer erros ortográficos significativos?

Como professora da rede pública, tenho conhecimento que a grade curricular das escolas contempla esses conteúdos e partindo do pressuposto que as professoras responsáveis pelas turmas que se inscreveram no referido concurso provavelmente tenham orientado seus alunos em relação à produção de poesias, achamos por bem considerar esses quesitos, embora não tenhamos sido rigorosas nessa avaliação, pois entendemos que por mais orientações que possam ter recebido esses estudantes, os mesmos não possuem autonomia para desenvolver textos considerados perfeitos dentro da língua padrão. Pautamos nossa análise também pela originalidade e criatividade, pois em relação a isso os estudantes dessa faixa etária tem muito a contribuir.

Com as questões de Língua Portuguesa definidas, nos deparamos com outros questionamentos a respeito da produção de poesias. O que seria poesia para esses estudantes? Poesia é dom? Não é dom? Pode-se ensinar poesia? Esses alunos entenderiam de aspectos como ritmo e sonoridade na poesia? Daríamos importância às rimas ou não?

Tínhamos como foco julgar composições de poesias infantis e/ou infanto-juvenis e para isso a pesquisa realizada por mim quando coordenei a Oficina de Poesia do Projeto Tendas Literárias foi fundamental. Durante 45 dias estudei poesias de aproximadamente 40 autores infantis e infanto-juvenis, selecionando os principais nomes para trabalhar suas produções nas oficinas de poesia. Outra questão que estava fortemente atrelada nesse julgamento eram as escolas. O projeto é de cunho educativo e concentra uma gama de escolas participantes.

Sabe-se que a poesia infantil brasileira manteve-se dependente da escola por quase um século. Apenas nos anos 40 é que surgiu um livro de poesia não vinculado à circulação escolar e somente nos anos 60 é que alguns documentos desvinculam completamente a poesia infantil dos compromissos escolares. Ainda assim, esse “completamente” é questionável já que, ainda hoje, as escolas são as grandes responsáveis pela circulação da literatura infantil, uma vez que a mediação familiar é pouco significativa nesse sentido.

Nesse ponto nossa discussão buscou analisar aspectos que dizem respeito à formação/capacitação do professor. Estaria o professor capacitado para trabalhar poesia nas escolas? O professor que trabalha dois a três períodos/dia e ainda dá conta de cuidar da casa e da educação dos filhos, teria tempo para ler e/ou pesquisar poesia? Embora os livros de literatura infantil circulem pelas escolas, com que frequência estes chegam às mãos dos alunos e quantos livros de literatura infantil e infantojuvenil são trabalhados nas disciplinas de Língua Portuguesa por ano? Estariam esses livros atualizados com o que de melhor se produz hoje dentro da poesia brasileira?

Enfim, a reunião de julgamento das poesias transformou-se num momento de reflexão e aprendizado sobre as tantas influências que contribuem para que o gênero poesia não seja trabalhado da forma como se pretende, e talvez estejam nesses fatos a razão de nas últimas estatísticas envolvendo quantidade de leitores dos diversos gêneros literários, a poesia não tenha obtido colocação satisfatória.

Missão cumprida resta-nos elogiar a iniciativa, que contribui significativamente na divulgação da poesia em nossa cidade e região, motivando a que mais e mais estudantes interessem-se pela poesia.

Nossos agradecimentos à Loiva Trindade e Nayara Spessato pelo carinho com que fomos recebidas e por estarem à frente de tão importante programa que por certo contribuirá tanto pedagógica como culturalmente na formação de nossas crianças e jovens. 

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