Livro exposto na Bienal de SP 2012 |
VIDA
DE ESCRITOR
Angela Ramalho
Escrever é um ato de
coragem. Eu diria isso e acrescentaria: escrever é para os fortes! Pessoas fracas, que não perseveram e que
costumam recuar ao primeiro obstáculo, não deveriam escrever, muito menos
publicar.
A princípio, alguém perguntaria:
escrever para que, se ninguém lê? E isso
é uma verdade que, ao mesmo tempo, nos remete a um paradoxo: a produção
editorial brasileira somente em 2010, segundo dados da Câmara Brasileira do
Livro, totalizou 55 mil títulos, o equivalente a 210 obras por dia útil, em
todos os gêneros. Para onde vão esses livros?
Os meus estão aqui, enquanto
eu engendro mil e uma estratégias para que cheguem aos leitores. Leitores que
nem são meus ainda, mas que terei que conquistar. Esse é o maior desafio de quem publica um
livro e por isso, requer coragem.
O camarada tem que ser muito
“macho” como dizia meu pai, para deixar registrado num livro o seu pensamento
sobre seja lá o que for. Sempre haverá alguém disposto a discordar, achar
aquilo piegas ou ficar tecendo considerações sobre o porquê do autor se
pronunciar desta ou daquela forma, em que momento e em que circunstâncias
aquilo aconteceu. Assim como nas novelas confundem personagem e ator, na
escrita confundem o autor e sua obra.
Acham que o texto é autobiográfico,
que é real, que você viveu linha por linha do que está escrito. Tenho alguns
poemas classificados como eróticos e/ou sensuais e já ouvi muitos comentários
desse tipo, com ar de admiração e até certa malícia: Nossa você fez isso? Você fez aquilo? Curiosamente, o texto se
referia à leitura de uma reportagem estampada numa revista masculina. Outros
questionam: para quem você escreveu isso?
Não passa pela cabeça de
certas pessoas que nem sempre falamos sobre nós, sobre o que vivemos ou
fazemos. Nossa imaginação é quem vai guiar o que escrevemos e com ela seguimos
rotas inesperadas!
Matamos muitos leões por
dia, sacrificamos momentos de folga, viajamos, participamos de feiras
literárias, antologias, concursos. Assumimos os custos de toda essa movimentação cultural, não sem antes
passar por uma verdadeira maratona, que
é a produção de um livro, desde você ter a ideia, escrever os textos,
selecioná-los, gravar em um arquivo ou CD, escolher a editora (e nesse ponto
temos que ser criteriosos, pois existem muitos picaretas no mercado), solicitar orçamento, fechar o contrato,
decidir quem vai prefaciar, fazer a apresentação da obra, elaborar os textos
das dedicatórias, dos agradecimentos, das orelhas (direita e esquerda) e o
texto da contracapa.
Importante nessa etapa que o
autor tenha uma biografia atualizada. Caso não possua, deve elaborá-la, citando
os livros que publicou, os prêmios recebidos e os destaques de sua carreira.
Acompanha a biografia uma foto atualizada do autor. Procuro escolher uma foto
em que eu esteja bem produzida, logicamente. Mesmo assim, quando me veem no dia
a dia, sem produção e eu mostro o livro, ao ver a foto inevitavelmente ouço essa
frase: nossa, como você está diferente!
Diferente é elogio? Se for, tá valendo! Mas se alguém pensa que a maratona acabou, que nada! Está só
começando!
Depois do livro pronto, vem
o lançamento e aí preparem o bolso, pois os custos são altos. Dependendo do
local que escolher (se for uma livraria da moda, dessas bacanas que existem nos
shoppings), só para fazer o lançamento e deixar o livro à venda, você vai arcar
com cerca de 40 a 50% do preço de capa. Definido o local, é hora de organizar o
cerimonial, providenciar convites, entregá-los, contratar buffet (caso esteja nos seus planos servir um coquetel), providenciar
uma atração cultural, que pode ser canto, declamação de poesias ou alguém que
toque musica instrumental.
Se quiser que seu livro
chegue ao consumidor final acompanhado de um marcador de páginas, você deve
contratar os serviços de uma gráfica e arcar com mais essa despesa. Também deve
providenciar a confecção de um banner, em tamanho padrão, que ficará exposto no
local do evento, com pelo menos 15 dias de antecedência, para chamar a atenção
do público em geral, que pode até trazer mais gente para o seu evento, se o que
você divulgar for convincente.
Muitos escritores se
decepcionam com a quantidade de livros vendidos no dia do lançamento. Nesse
ponto não é bom criar muitas expectativas. Tem muita gente que comparece,
serve-se do buffet, te abraça, dá os parabéns e vai embora. Demonstrou
consideração por você? Demonstrou! Era obrigada a comprar o livro? Não era! Então,
porque a decepção? Numa outra oportunidade essa pessoa poderá comprar seu livro
e até indicá-lo a alguém que se interesse por aquele gênero literário, caso ela
não tenha se interessado. Tem quem goste de poesia e quem não goste. Poesia
vende? Poesia não vende? São questionamentos que se ouvem aos montes. Eu digo:
sempre haverá espaço para o que é bom.
Vida de escritor não é
fácil. Para encarar tudo isso tem que ter paixão, determinação e coragem. Viver
é assumir riscos. O máximo que pode acontecer é você perder tempo, dinheiro e
ficar com estoque encalhado. Mas se não tentar, nunca vai saber.
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