Certas pessoas me perguntam
se percebo influências desse ou daquele escritor nas coisas que escrevo. A
poesia na minha vida foi marcada, desde a infância, pela presença de meu pai,
um paraibano da Serra de Teixeira (PB), defensor da cultura nordestina, que era
repentista, lia literatura de cordel e fazia versos em [1] martelo agalopado como ninguém! Cresci
vendo meu pai compor seus versos de improviso e admirava a facilidade com que
as palavras vinham-lhe à mente, produzindo na oralidade (e somente na
oralidade) cordéis de riquíssimo conteúdo. Essa foi minha primeira e mais forte
influência. Abaixo meu primeiro cordel.
NA BALANÇA DA VERDADE, DEUS
SABE QUEM PESA MAIS (cordel)
Ficou muito complicado
Entrar para a
eternidade
Tudo tem que ser pesado
Na balança da verdade
Tudo tem que ser pesado
Na balança da verdade
Nossos erros e
acertos,
Nossas faltas, nossos ais
E prá quem pecou demais
Ainda tem esperança
Nossas faltas, nossos ais
E prá quem pecou demais
Ainda tem esperança
Pois nessa tal de
balança
Deus sabe quem pesa
mais.
Por volta dos meus 17-18
anos a Editora Abril lançou a coleção “Os Imortais da Literatura Brasileira” e
a cada semana eu adquiria nas bancas um exemplar. Levou tempo, mas completei
toda a coleção e pude ler as obras-primas dos grandes mestres da
literatura nacional, dos quais destaco Aluísio de Azevedo, Álvares de
Azevedo, Bernardo Guimarães, Cláudio Manuel da Costa, Euclides da Cunha,
Franklin Távora, Gonçalves Dias, Joaquim Manuel de Macedo, José de Alencar,
Lima Barreto e Machado de Assis.
Quando iniciei o Curso
Técnico de Redação literariamente fui apresentada pela Professora Alice Áurea
Penteado Martha aos grandes mestres: Drummond, Vinícius, Fernando Pessoa e
Pablo Neruda. Estes a partir de então, tornaram-se os meus preferidos. Em três
anos conclui o curso e acrescentei à lista inicial: Clarice Lispector,
Guimarães Rosa, Graciliano Ramos, Mário Quintana, Manuel Bandeira, Moacyr
Scliar, Fernando Sabino, Luiz Fernando Veríssimo, Paulo Mendes Campos, Ligia
Fagundes Telles e Jorge Amado (não sei se necessariamente nessa ordem).
Li ainda Cora Coralina e os
paranaenses Helena Kolody e Paulo Leminski. Li Marina Colasanti e seu
talentoso marido Affonso Romano de Santana. Mais recentemente li Lia Luft e
gostei. Li o amigo Oscar Nakasato, maravilhoso! Tem ainda muita coisa boa na
minha estante que não consegui ler. É impossível trabalhar 40 horas, dar conta
de uma série de demandas de trabalho que trago para casa, escrever o tanto que
escrevo e ainda ler. O dia tem apenas 24 horas. Eu precisaria de mais!
Penso que devo ter
influências desse povo todo em meus trabalhos, mas penso também que agreguei
características minhas em todos eles. Quando lemos muito um autor é natural
adquirirmos características de sua escrita, mas quando lemos vários autores, é
muito difícil saber qual deles mais te influenciou. Analisando o que escrevo
hoje, eu vejo algumas influências sim. Por exemplo, a influência de
gênero. Eu escrevo muito mais poesias do que crônicas ou contos. Exploro nas
poesias temas variados, mas o tema predominante é o amor. Nelas o romantismo de
certos textos me faz lembrar o poetinha, que também exerce influência em alguns
de meus sonetos.
QUEM?
Quem de bom grado merecerá
ser amado?
Quem me falará de amor, sem dia e hora?
Quem de vós ficará e quem irá embora?
Quem me será caro, quem será lembrado?
Quem de vós inspirará meus versos?
Quem me fará cantar em pleno dia?
Quem fará carícias cheias de ousadia?
Ou falará de amor de modos tão diversos?
Quem me dirá frases de amor tão belas?
Quem me fará sentir o melhor sentimento?
Quem mudará o curso dessa história?
Como acontece em cenas de novelas,
O final tem sempre seu melhor momento,
Que é imprevisível, mas cheio de glória.
Quem me falará de amor, sem dia e hora?
Quem de vós ficará e quem irá embora?
Quem me será caro, quem será lembrado?
Quem de vós inspirará meus versos?
Quem me fará cantar em pleno dia?
Quem fará carícias cheias de ousadia?
Ou falará de amor de modos tão diversos?
Quem me dirá frases de amor tão belas?
Quem me fará sentir o melhor sentimento?
Quem mudará o curso dessa história?
Como acontece em cenas de novelas,
O final tem sempre seu melhor momento,
Que é imprevisível, mas cheio de glória.
Quando falo da natureza e da
espiritualidade, Helena Kolody e seus haicais me inspiram e me levam a compor
versos como esses:
"Deus nos deu uma
estrela.
Hoje ela mora no céu.
Na poesia, posso vê-la."
Hoje ela mora no céu.
Na poesia, posso vê-la."
Leminski me inquieta e me
desafia a escrever coisas breves, com simplicidade mas ao mesmo tempo com
inteligência e humor. Assim tentei me expressar sobre os meus cabelos:
“Eu me descabelo,
Com meu cabelo
Nada belo.
Mas mesmo assim,
Gosto de mim”.
A
poesia concreta aparece em alguns momentos no que escrevo. Mas considero que
sou mais eu na prosa poética. Se vivo fosse, meu pai discordaria de grande
parte do que escrevo. Quando fiz essa poesia ele já havia falecido, o que me
fez imaginar a cena: eu e meu pai, discutindo poesia.
POESIA SEM RIMA
Meu pai:
Poesia não tem que ter rima.
Poesia é poesia. Tem que ter sentimento.
Não.
Sem rima não é poesia, é prosa.
Não, meu pai.
É poesia moderna, contemporânea.
Mas sem rima
Não presta.
Nada que é moderno presta.
Porque a poesia prestaria?
Ah, conflito de gerações...
Fico eu, com a moderna.
Meu pai com a sua rima.
Poesia não tem que ter rima.
Poesia é poesia. Tem que ter sentimento.
Não.
Sem rima não é poesia, é prosa.
Não, meu pai.
É poesia moderna, contemporânea.
Mas sem rima
Não presta.
Nada que é moderno presta.
Porque a poesia prestaria?
Ah, conflito de gerações...
Fico eu, com a moderna.
Meu pai com a sua rima.
E quem é que vai negar
Que as duas não são poesia?
Importante
ressaltar aqui que considero "ler" o ato de adquirir o livro impresso
e literalmente "devorá-lo" da primeira à última página. Não considero
leitura (embora o seja!) o fato de entrar esporadicamente em sites de
escritores contemporâneos, renomados ou não e bisbilhotar parte de seu
conteúdo. Faço isso com frequência. Leio fragmentos de poemas (ou leio todo o
texto, se tenho tempo). Mas essa visitinha informal para mim conta como uma
introdução na obra daquele autor, não como leitura. Normalmente faço isso
com o escritor da moda. Vou lá e leio o que ele faz. Se gosto compro. Se não
gosto, fica só na visitinha básica. A internet existe para isso. Facilita para
conhecer o que as pessoas estão escrevendo. E muitas vezes, tenho agradáveis
surpresas de onde menos esperava!
[1] Martelo agalopado: estrofe de dez versos de dez sílabas poéticas, marcados
por acentuação tônica nas terceira, sexta e décima sílabas.
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